Há muitos,
Licia Olivetti NYC 2010 ©
Alguns nunca se entregam. Muitos não se dão por achados. Há sempre os que continuam a acreditar. Outros investem por tradição de família, costume entre os seus iguais, hábito doméstico ou vício emperdenido. Tem aqueles que crêem e os que crêem em si mesmos ainda em maior número. Uma pequena multidão espera, enquanto o resto da malta se agita. O exsudar da mata, a animália guardiã da carne, o silêncio dos pássaros, só os olhos, só os olhos. Sapos e pestes, nuvens de mosquitos zanzam para lá e para cá. Há os que se agitam e os que agitam lenços ao longe. Língua de mãos e braços. Partir é deixar parte de si, já me disseste assim. Então, vou para que fiques com junto e em ti. Tu que ficas nada deixas comigo, nada do que resta do fogo cruzado da culpa que, a final, restará contígua. Eu vou para onde estás, deixando-te. Abandono as tuas possibilidades. Carrego-as num alforge de idéias antigas. Tu és a realidade do passado. Cadas vez que penso em ti, exumo-te.
Há os que nunca chegam, os que sempre partem, os que jamais deixam a terra natal de seus pais. Em tempo algum deixarei de ser teu e assim sendo, partirei constantemente, obstinadamente. Eu não queria uma causa, uma bandeira, um vento, mas o modorrento passar das horas em que eu pudesse beber teu hálito, tragar teus gestos, tocar seu rastro. Busco-te para que me firas ainda e na agonia possa sentir-me um teu eterno objeto de desdém e horror. Em espelho múltiplo multiplico os erros e de um só golpe - tu. Preso em tua sombra sigo imperceptível... sigo a deixá-la todos os dias.