Tuesday, February 14, 2012

Caminhos comuns


    A Fonte, NYC Fev2012 LRO

Com um sorriso ou um olhar de entrega, os filhos nos dão a conhecer o que é essencial na vida: experimentar o amor incondicionado. Criar filhos é seguir um curso de humildade enfeitado pela compreensão mutuamente profunda. É o amor parental que faz jorrar a força que temos dentro de nós.

A caminho da maturidade, os filhos vão aperfeiçoando a sua capacidade de absorver  experiências. Na vida adulta já deixaram com os pais a sua infância.  Esta é uma herança ao revés que nos assiste na troca de percepções que diferem segundo o tempo e a personalidade de cada um.

No correr da vida, lentamente os filhos tomam a dianteira. A partir daí nossa tarefa passa a ser a de reaprender com eles para que a renovação seja permanente.  

Os filhos logo descobrem que estamos um pouco menos assertivos, mais indagadores; em muitos aspectos, reformados; em outros, ainda na condição de noviços. Livres da responsabilidade de formá-los, podemos ser mais espontâneos. Estamos agora atados à vida somente pelo prazer de sempre aprender com ela,  até que a juventude eterna venha nos buscar.

Sem esse processo de contínua renovação, nossas mentes se fossilizam, nossa alma se enterra num mar de ressentimentos, saudosismo e isolamento progressivo da atualidade. Diante deste cenário, revisitar a realidade interna se torna imperativo. Precisamos compreender as tristezas e aceitá-las; admitir a saudade, mas somente com o intuito de reinventá-la, pois só assim o passado se transforma em memória do futuro.

Aprender é difícil e reaprender pode ser muito doloroso, mas se o primeiro é fundamental para a sobrevivência, o segundo é absolutamente necessário para a reafirmação e a renovação da individualidade. Só assim podemos voltar a produzir novidades que tenham significado para nós mesmos, e, com alguma chance, também para a sociedade. Sinto que na atual fase da minha vida, é minha responsabilidade ensinar os filhos a se renovarem, e isso só posso fazer através do exemplo vivido com prazer.

Nós somos o depositório da experiência dos jovens, mas são eles que traçam a nossa rota comum para o futuro. É uma lei da vida. De mãos dadas, a velha infância e a nova experiência seguem para um porvir fundado no passado, mas com os olhos nos paralelos do futuro.


Continuamente agradeço a Deus pelos filhos que tenho.

Licia Rabelo
NYC, 14. 02. 2012