A Fonte, NYC Fev2012 LRO
Com
um sorriso ou um olhar de entrega, os filhos nos dão a conhecer o que é
essencial na vida: experimentar o amor incondicionado. Criar filhos é seguir um
curso de humildade enfeitado pela compreensão mutuamente profunda. É o amor
parental que faz jorrar a força que temos dentro de nós.
A
caminho da maturidade, os filhos vão aperfeiçoando a sua capacidade de
absorver experiências. Na vida adulta já deixaram com os pais a sua infância. Esta é uma herança ao revés que nos assiste na troca de percepções que diferem segundo
o tempo e a personalidade de cada um.
No
correr da vida, lentamente os filhos tomam a dianteira. A partir daí nossa
tarefa passa a ser a de reaprender com eles para que a renovação seja
permanente.
Os
filhos logo descobrem que estamos um pouco menos assertivos, mais indagadores;
em muitos aspectos, reformados; em outros, ainda na condição de noviços. Livres
da responsabilidade de formá-los, podemos ser
mais espontâneos. Estamos agora atados à vida somente pelo prazer de sempre
aprender com ela, até que a
juventude eterna venha nos buscar.
Sem
esse processo de contínua renovação, nossas mentes se fossilizam, nossa alma se
enterra num mar de ressentimentos, saudosismo e isolamento progressivo da
atualidade. Diante deste cenário, revisitar a realidade interna se torna
imperativo. Precisamos compreender as tristezas e aceitá-las; admitir a
saudade, mas somente com o intuito de reinventá-la, pois só assim o passado se
transforma em memória do futuro.
Aprender
é difícil e reaprender pode ser muito doloroso, mas se o
primeiro é fundamental para a sobrevivência, o segundo é absolutamente necessário
para a reafirmação e a renovação da individualidade. Só assim podemos voltar a
produzir novidades que tenham significado para nós mesmos, e, com alguma
chance, também para a sociedade. Sinto que na atual fase da minha vida, é minha
responsabilidade ensinar os filhos a se renovarem, e isso só posso fazer
através do exemplo vivido com prazer.
Nós
somos o depositório da experiência dos jovens, mas são eles que traçam a nossa
rota comum para o futuro. É uma lei da vida. De mãos dadas, a velha infância e
a nova experiência seguem para um porvir fundado no passado, mas com os olhos
nos paralelos do futuro.
Continuamente
agradeço a Deus pelos filhos que tenho.
Licia Rabelo
NYC, 14. 02. 2012