Thursday, April 15, 2010


Bernardas, Licia Olivetti NYC Abril, 2010 ©


Pra cada um ou tudo ou nada
outros nada em retaguarda
Naquele álbum o algoz
semi nenhum de nada
tem tudo aquilo na vanguarda
Esse aqui todas feroz
essa ali todos amada
Uma tida como bernarda
foi tudo aquilo e quase nada
Aquele lá que toda vez
tem toda quanta quis deitada
bate agora em retirada
amarga doce faça tez
Do só fazer minha ninhada
alguma quer tudo sem nós
se ao final da madrugada
um sol restar é toda indez

Tuesday, April 13, 2010


Casas de Família, Licia Olivetti NYC 2010 ©


Nas casas de pedra da minha infância,

o assoalho é feito de madeiras de lei, fenda e receio.

O medo a me olhar do escuro

é um outro olhar que me encontra impuro.

As sombras, as portas altas, a família,

os muitos cômodos, que de nada se ocupam

a não ser dos muros que os circundam,

estão lotados de poeira e imagens.

Imóvel, há muitos séculos, a mobília

mira as paredes onde repousam os retratos.

O vento e o sol que entram pelas venezianas

fazem o pó de ouro dançar no ar.

O eco dos gritos do banho morno

e o ranger de dentes do sobrado morto

infundem-me um terror seco e tamanho,

que ainda sinto o corpo enregelar

e a face contorcer-se em pranto

pelas fissuras feitas com sereno dano.