
Casas de Família, Licia Olivetti NYC 2010 ©
Nas casas de pedra da minha infância,
o assoalho é feito de madeiras de lei, fenda e receio.
O medo a me olhar do escuro
é um outro olhar que me encontra impuro.
As sombras, as portas altas, a família,
os muitos cômodos, que de nada se ocupam
a não ser dos muros que os circundam,
estão lotados de poeira e imagens.
Imóvel, há muitos séculos, a mobília
mira as paredes onde repousam os retratos.
O vento e o sol que entram pelas venezianas
fazem o pó de ouro dançar no ar.
O eco dos gritos do banho morno
e o ranger de dentes do sobrado morto
infundem-me um terror seco e tamanho,
que ainda sinto o corpo enregelar
e a face contorcer-se em pranto
pelas fissuras feitas com sereno dano.
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