O homem parece dançar entre as pedras quentes. Seus pés mergulham na
areia grossa e a água fresca passeia entre seus dedos. Um peixe minúsculo mora
entre o dedo médio e o dedo grande. As unhas riscam certos nomes nas paredes
da recâmara, furam meias por onde a alma passa inteira e foge para a cela ao
lado. A mulher carangueja entre os grãos de areia. Ali perecem a flor e o fruto.
O amor é
o louvor amargo de muitas lágrimas. Todos os dia um esforço tão grande
para refazer o anelo, andar sobre o fio do cutelo, semear confiança em terra de
fuga e risco. O corte ou o estilhaço são as escolhas que as nuvens carregadas
pelo vento têm.
O amor quer afoguear-se em castos prazeres. A culpa espera cada gemido para
mostrar seu olho. De antigos missais ressurgem preces, promessas feitas no
amargor do momento, desalentos profundos que hoje são apenas borras de sal... O perdão encobre o
verdadeiro caráter das coisas e desditoso reinstaura a rotina.
O amor cai em nossa vida como uma pedra e nos soterra em pranto. Depois fica ali brincando de estátua, dia após dia desfazendo-se em sal, assoreando de areia os caminhos que levam ao amanhã.
O amor é sóbrio
de inteligência.
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