Tuesday, November 15, 2011

Borras de Sal


LIC, LRO nov2011

O homem parece dançar entre as pedras quentes. Seus pés mergulham na areia grossa e a água fresca passeia entre seus dedos. Um peixe minúsculo mora entre o dedo médio e o dedo grande. As unhas riscam certos nomes nas paredes da recâmara, furam meias por onde a alma passa inteira e foge para a cela ao lado. A mulher carangueja entre os grãos de areia. Ali perecem a flor e o fruto.

O amor é o louvor amargo de muitas lágrimas. Todos os dia um esforço tão grande para refazer o anelo, andar sobre o fio do cutelo, semear confiança em terra de fuga e risco. O corte ou o estilhaço são as escolhas que as nuvens carregadas pelo vento têm.

O amor  quer afoguear-se em castos prazeres. A culpa espera cada gemido para mostrar seu olho. De antigos missais ressurgem preces, promessas feitas no amargor do momento, desalentos profundos que hoje são  apenas borras de sal... O perdão encobre o verdadeiro caráter das coisas e desditoso reinstaura a rotina.

O amor cai em nossa vida como uma pedra e nos soterra em pranto. Depois fica ali brincando de estátua, dia após dia desfazendo-se em sal, assoreando de areia os caminhos que levam ao amanhã.

O amor é sóbrio de inteligência.
Licia Olivetti 2011

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